PRAÇA NOSSA SENHORA DA PAZ


                                                          A Praça nossa Senhora da Paz
                                                                                                                 Izabel Mattos

Desde tempos imemoriais se diz que a praça é nossa. Nossa, de todo o povo, aberta a quem nela quiser vir se reunir, descansar, namorar, brincar ou simplesmente se sentar e apreciá-la. Pois então vamos brigar por este bem coletivo que corre grande risco. Nas últimas décadas do século passado e neste começo de século em que vivemos, tem ocorrido uma constante depreciação deste espaço  tão caro para nós. Praças mal cuidadas, aviltadas por mobiliários urbanos que nada tem a ver com ela, usos muito distantes das suas finalidades originais.
            Pois agora querem destruir a praça N. S. da Paz, pondo abaixo dezenas de árvores centenárias, para  se construir ali uma estação de metrô e, desconfiamos, para levar adiante um antigo projeto de colocar sob ela um grande estacionamento.
            Sem entrarmos no mérito do absurdo de se construir uma linha única, um extenso minhocão de dezenas de quilômetros ligando a Pavuna à Barra, com tudo o que isto pode causar de problemas em seu funcionamento, quero ressaltar a má escolha do local para a segunda estação em Ipanema.
            A praça N. S. da Paz, com suas frondosas árvores, é um oásis neste emaranhado de prédios e carros em que se transformou o bairro de Ipanema. Crianças e velhos diariamente ali têm seus momentos de lazer. É um prazer enorme sentar em seus bancos e observar a vida que corre por suas alamedas. As crianças pequenas, com suas mães ou babás, expandem livremente suas naturezas neste paraíso enorme (para elas) e aberto, uma vez sem os entraves dos limitados espaços dos apartamentos em que vivem.  Em torno do lago, cheios de peixes, correndo por entre as muitas plantas e observando os pássaros, as crianças vão apreendendo o significado da diversidade da vida e suas peculiaridades. Para os adultos é um momento de quebra na rotina cotidiana, e a conversa rola solta enquanto ficam de olho nos pequenos que brincam. Mas o povo da terceira idade curte igualmente este jardim. O novo espaço de ginástica é frequentemente usado por aqueles que, embora saibam que não podem parar o tempo, querem pelo menos chegar bem à reta final. Alguns buscam simplesmente o sol, seu grande aliado nesta luta. E os namorados, poetas, trovadores e todo tipo de trabalhador têm ali uns momentos de descanso e sonhos. Até os cães tem seu lugar neste espaço democrático, com uma pista para correrem. Todos, dos mais velhos aos mais novos, vão  recarregar, por instantes que seja, suas energias neste lugar mágico e calmo. Ali a ordem é o vagar lento, o correr inocente das crianças, a meditação. Jamais a correria de quem precisa alcançar o próximo metro.
            Como seu próprio nome diz, é um oásis de paz e não podemos deixar que se a destrua em nome de praticidades ou interesses espúrios. Por mais que se diga que será reconstruída, jamais esta dama antiga e charmosa que domina o coração de Ipanema voltará a ser a mesma.

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